quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Correndo em Towllon

O sol de prata já se punha no horizonte, deixando a tarefa de iluminar monoceros á lua de rubi.
- Tem certeza de que não quer voltar, Vetstah? – David perguntou conforme iam caminhando pela planicie coberta de pinheiros.
- Não... – Disse o elfo balançando a cabeça lentamente – Towllon é muito perigosa, ninguém consegue passar por lá sozinho.
- Ainda está muito longe? – Cassius perguntou
- Não, não. – Vetstah disse – Estão vendo aquele monte de eucaliptos ali em frente?
Os quatro blançaram a cabeça.
- Bem, é só passarmos por ali. Tomem cuidado, nem tudo é o que pareçe.
Os garotos não entenderam exatamente o que Vetstah queria dizer, mas acentiram.
Os cinco adentraram no campo de eucaliptos e foram andando, até que avistaram um portão negro e frondoso, feito de algo que nenhum deles havia visto antes.
- Lembrem-se, temos que sair antes do amanhecer, senão ficaremos presos até a próxima noite.
Eles atravessaram o portão, com medo de fazer muito barulho.
Uma cidade negra os esperava do outro lado. Telhados em forma de torres retorcidas, arvores mortas, ou com pessoas enforcadas, cheiro de animais, sons estranhos, sangue no chão, gemido, choro... O que era aquilo?
- Temos mesmo que passar por aí? – Elinor perguntou assustada
- Não tem outra alternativa... – Vetstah disse.
- Então... – Diego respirou fundo e tomou coragem. – Vamos!
Cassius, David, Diego, Elinor e Vetstah começaram a andar, tentando ignorar a aparência medonha da cidade.
- Sabe, até que, tirando as casas, o sangue e os sons, Twollon nem pareçe tão assustadora assim... – Diego disse olhando em volta
- É mesmo. – Cassius observou – Por que será que não tem nemhum monstro aqui?
- Isso eu não sei responder... – Disse o elfo
Eles continuaram andando, aquele lugar parecia estranhamente calmo... Até que avistaram algo. Parecia ser uma mulher idosa, usando uma capa negra que cobria seus olhos, de modo que apenas o seu nariz de batata e o sorriso estranhamente macabro ficasse a mostra. Ela segurava um pano que brilhava. Brilhava como se fosse de vidro vidro. Brilhava como se fosse de diamante. Brilhava como se fosse de estrelas.
Ela saiu da calçada e foi caminhando rápido com suas pernas curtas.
- Que crianças bonitas! – Ela disse, e os bruxinhos assentiram, hipnotizados pelo pano, que tinha as sete cores do arco íris.
- Mas crianças bonitas precisam de roupas bonitas, certo? – Sua voz soava ora alegre, ora persuasiva, ora deseperada.
- Sim... – Disseram os quatro em unisono
Se você olhasse para o pano atentamente, veria toda a história de Monoceros, e outra coisa...
Foi o que Vetstah percebeu
- Temos que ir. – Disse o elfo num tom sério – Agora
O sorriso sumiu do rosto da velha.
- Que é isso... Vai ser tudo muito rápido. – E voltou-se para Elinor – O que acha de um vestido querida?
Ela assentiu sorrindo, enquanto aquela estranha a enrolava com o pano.
- E você, garoto? – Ela olhou para Cassius – gosta de calças bufantes?
- Nos temos que ir... AGOOOOOOOOOORAAAAAAAAAAA!!!!!
O grito de Vetstah ecoou por todo o vale, fazendo todas as almas vivas (e as já não mais) despertarem.
- Ah, muito esperto elfo. – Disse a velha sem mover a boca. Logo, essa se escancarou.
Duas bolinhas amarelas apareçeram dentro, então cresceram, a ponto de se parecerem com dois galeões. Então, os cinco perceberam que se tratava de dois olhos dourados.
O que era, ninguém ficou pra descobir. Todos dispararam, e se dividiram nas três ruas. Diego continuou em frente, Elinor e David viraram para a esquerda e Cassius e Vetstah foram para a rua á direita.


Quer ver?

Diego ainda estava arfando, colocando as mãos no joelhos. Só agora ele percebera que estava sozinho, o que era mal... Encostouna parede de uma casa de pedras negras e começou a pensar em como sair dali.De repente, sentiu algo segurando seu pescoço e o puxando para traz.
Tudo que ele viu, foi que uma mão branca como a neve o puxara por uma janelinha.
Olhou em volta, e viu um porão extremamente sujo, com a aparência de antigo, e uma garota olhando para ele. Um dos olhos eram dourados e o outro roxo, seus cabelos eram ruivos, curtos e lisos, e tinha uma marca vermelha no pescoço.
- O que você tá fazendo? – Ela perguntou baixinho – Não sabia que isso não é lugar para bruxos? Esses descendentes de Aion...
Diego ainda estava sem palavras.
- Vem, eu vou te tirar daqui... – Ela disse segurando em sua mão, era muito fria.
- Quem é você?
- Essa é uma boa pergunta. – Ela sorriu, guiando-o até uma escada – Uma boa pergunta que mereçe uma resposta.
- Então...
- Meu nome é Ymir. Pelo menos, eu acho.
- É um nome bem... Interessante!
- É estranho, eu sei, pode falar! – Ela disse visivelmente ofendida, quando chegaram em uma pequena sala, tão suja quanto o porão.
- Não, é sério, gostei do seu nome! Acho que já ouvi antes...
Ymir sorriu.
- Muito bem, vamos! – Ela abriu a porta, o levando para uma cidade avermelhada pela luz da lua
Ymir andava rápida e leve, repreendendo Diego por cada minímo passo que fosse audível.
Por fim, chegaram a outro portão, do lado oposto pelo qual Diego havia entrado.
- Muito bem, vá fazer o que tem que fazer, Dragão de Rubi. -
- Como soube?
- Ah, eu senti. – Ela sorriu
- Ymir, eu queria saber... Essa marca no seu pescoço...
- Ah, sim. – Ela sorriu – Quando eu era viva, minha cabeça foi decepada. – Ela disse com simplicidade, como se estivesse apenas dizendo as horas. – Ela sai. Quer ver?
- Não! – Diego estendeu ambas as mãos para frente – Valeu...
O defunto deu de ombros e empurrou Diego para fora do portão.
Um grito que brou o silêncio noturno, duas vozes gritavam em unísono um alto e bom “COOOOOOOORREEEEEEEEEEE!!!!!”
- Calma, vou ajudar eles! – Ymir disse, adivinhando o que Diego pensava
- Você não pode mais voltar aqui, pelo menos não até a próxima noite. – Ymir deu um sorriso amarelo – E... Ah, Bruxo, qual é o seu nome?
- Diego!
- É um nome bem... Interessante! – Ela respondeu
Diego sorriu e retomou seu caminho, esperando que todos estivessem bem.

Através do espelho

Elinor e David caíram de joelhos sob as pedras cinzas e sujas.
- O que era aquilo? – David perguntou ainda chocado
- Bem, talvez... – Elinor disse pensativa, com o dedo indicador nos lábios e um olhar perdido para o céu noturno - Pode ser que a vovózinha tenha um parsita demônio. Eles entram em alguém e sugam toda a sua força vital, matando o hospedeiro e indo procurar um novo.
- E como você sabe disso? – David perguntou alarmado
- É que... Eu vi uma vez num jogo – Ela disse com simplicidade
- Num jogo? – Ele perguntou estupefato, e a garota assentiu
- Vamos entrar lá. – Elinor apontou para uma casa bastante grande, com torres negras e tortas, rosas vermelhas como sangue crescendo nas paredes e degraus cobertos de limo e líquen.
- E pra que? – Ele perguntou
- Ver se achamos algo de útil.
- Acho que estou entendendo... Como um mapa de Towllon, assim pode ser mais fácil da saírmos daqui!
- Eu ia dizer água benta, mas isso também é bom...
Os dois andaram silênciosamente até a casa e viraram a maçaneta, esperando que estivesse trancada. Engano. A porta se abriu com apenas um toque. David e Elinor entraram, examinando a sala: Era um comodo circular, grande, de teto alto, muito escuro. As cortinas eram de veludo verde musgo, e bloquevam completamente a luz vermelha da lua. A parede oposta era coberta por uma estante de livros, que só era dividida em duas por uma porta de ébano. No centro da sala, havia uma escada negra de ferro, em forma de caracol. Sentada, em uma poltrona negra, havia uma garota. Deveria ter uns dezesseis anos, tinha cabelos loiros cacheados, pele morena e olhos negros. Tinha um rosto frio e uma expressão séria, muito intimidadora.
- Ah! – Elinor Disse desconcertada – Eu só... Nós só... Ferrou, cara!
- D-desculpe por entrar a-assim é q-que... – O garoto tomou a palavra
A garota estendeu uma das mãos
- Eu não me importo com o motivo de terem entrado aqui – Ela disse fria – Mas suas linhas da vida se entrelaçaram com a minha, e não gosto que isso aconteça. Vou leva-los para fora. Sigam-me.
A garota se levantou e subiu a escada rapidamente, e Elinor e David tiveram que apressar o passo para acompanha-la.
Eles chegaram numa sala estranha. Era muito maior do que a anterior, e tinha um teto em cúpula, como o universo. Possuí duas luas, uma dourada, outra lilás, vários buracos negros, cometas, supernovas, astros, planetas e um enorme sol azul. As estrelas espalhadas pelo teto cintilavam como diamantes encrustados.
No centro da sala havia um caldeirão borbulhante. Em uma das paredes, uma mesa com vidros cheios de líquidos coloridos, livros e um espelho com uma moldura tão ou mais brilhante que o pano da vóvozinha e seu parasita.
A garota rumou decidida para a mesa e apanhou o espelho.
- Olhem profundamente, e não parem, até que não consigam mais se ver.
Eles não entenderam o por que da ordem, mas obedeceram. Monoceros parecia querer deixar as crianças na ignorância.
Olharam, olharam e olharam. Até que, ouviram um grito alto, algo que parecia “COOOOOOOORREEEEEEEEEEE!!!!!” e, num lampejo de luz, a sala sumiu, e David e Elinor se viram deitados debaixo de um salgueiro, cujos ramos alcançavam o chão. Atravessaram o dosél de folhas e olharam em volta do vale a qual haviam chegado.
- É impressão minha, ou isso é meio estranho? – David perguntou
- Como podemos julgar o que é estranho ou normal? – Elinor respondeu com uma pergunta.
- Acho que tem razão...
Elinor e David continuaram a jornada, esperando que tudo corresse bem.

Monstros pra lá, monstros pra cá

O elfo e o bruxo correram por mais algum tempo até chegarem em frente a uma árvore podre e se encostarem nela.
- O QUE ERA AQUILO? – Cassius perguntou ainda apavorado
- POR QUE EU DEVERIA SABER? – Vetstah revidou bravo
- SEI LÁ, TALVEZ POR QUE ESTE SEJA O SEU PLANETA? – Cassius berrou
- NÃO FALE ALTO, DROGA! – O elfo berrou mais alto
- OLHA SÓ QUEM FALA! – Os cabelos e olhos do garoto já estavam furiosamente vermelhos – E... Calças bufantes? O que tinha naquela mulher?
- Eu disse que eu não sei! – Vetstah disse
- Eu não estava daquela coisa saindo dela, e sim do motivo de ela ter sugerido calças bufantes pra mim!
- Esqueçe as calças, tá bem? – O elfo disse se levantando – Ah, mas não as suas no caminho, por favor.
Cassius deu um tapa na testa, seus cabelos e olhos voltando gradualmente ao negro habitual.
Então, sem aviso, algo virou a esquina. Alto, esguio, as costas levemente turva, de pele cinza, olhos vermelhos, caninos avantajados e sangue no rosto. Se aproximava devagar, com um sorriso alucinado e psicopata.
- Corre... – Vetstah sussurrou
- O que? – Perguntou Cassius
- Corre!
- Mas e você? – Cassius perguntou
- Eu te encontro quando eu acabar com ele
- Mas e se você não...
- Não faça isso passar pela minha cabeça nem por um segundo.
Cassius assentiu e correu. Correu tão rápido quanto podia, e quando já se sentia seguro, se encostou num muro, e encolheu a cabeça nos joelhos dobrados.
Ele esperou, esperou, esperou e esperou, até que ouviu passos vindo em sua direção.
Cassius levantou a cabeça e viu Vetstah estancando um ferimento no braço esquerdo.
- Vetstah! – Ele disse preocupado – O que aconteçeu?
- Nah, eu vou sobrevir! – O elfo disse olhando em volta – Agora temos que ir, esse cheiro pode atrair alguns...
O elfo foi interrompido por um som muito estranho, vindo de uma rua. Uma mistura de zumbidos, passos e gritos saí de uma rua. Dela, surgiu uma comitiva de monstros. Grandes, pequenos, altos, baixos, azuis, laranjas... Uma cena realmente surreal.
- COOOOOOOORREEEEEEEEEEE!!!!! – Os dois berraram em unísono, e dispararam, sentido as pernas doerem como se estivessem rasgando.
Era quase de manhã, o sol já estava surgindo, quando, Cassius e Vetstah o viram. Negro, grande e majestoso. O portão da salvação! Eles correram como nunca haviam corrido antes. Vetstah, por ser um elfo, chegou no portão mais rápido, enquanto Cassius ainda corria.
- Rápido! – Berrou o elfo estendendo a mão. A lua estava quase sumindo
Cassius acelerou, e pulou pelo portão, caindo em cima do elfo, bem no minuto em que a Lua de Rubi sumira, e o dia havia voltado a ser cinza.
Os dois se levantaram, e olharam para onde Towllon acabara de sumir.
Vetstah e Cassius voltaram a andar, desejando que aqueles monstros, certamente não ficassem nada bem.
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Yeaah! Demorei mas acabei! ^^